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    Chris Hedges

    Jornalista vencedor do Pulitzer Prize (maior prêmio do jornalismo nos EUA), foi correspondente estrangeiro do New York Times, trabalhou para o The Dallas Morning News, The Christian Science Monitor e NPR.

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    Quando os justos vão para a prisão

    "Quando aqueles que expõem os crimes do estado são criminalizados e enviados à prisão, a tirania é inevitável", escreve Chris Hadges sobre Daniel Hale

    Daniel Everette Hale (Foto: Reprodução/Wikipedia)

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    Por Chris Hedges 

    (Publicado no site The Chris Hedges Report, traduzido por Rubens Turkienicz para o Brasil 247)  

    MARION, estado de Illinois (EUA) – Daniel Hale, vestindo um uniformw caqui, seu cabelo cortado curto e exibindo uma barba marrom, longa e bem tratada, está sentado atrá de uma placa de plexiglass, falando num telefone na prisão federal de Marion, estado Illinois, EUA. Eu seguro um telefone no outro lado do plexiglass e escuto, enquanto ele descreve o seu percurso – de ter trabalhado para a Agência Nacional de Segurança dos EUA (NSA - National Security Agency) e para a Força-Tarefa Conjunta de Operações Especiais (Joint Special Operations Task Force) na base aérea de Bagram, no Afeganistão, até se tornar o prisioneiro federal nº 26069-07.

    Hale - um ex-analista de inteligência de sinais [mensagens] da Força Aérea dos EUA – está cumprindo uma sentença de prisão de 45 mêses, após a sua condenação sob o Ato de Espionagem (Espionage Act) por revelar documentos classificados (secretos) sobre o programa de assassinatos via drones das forças militares dos EUA e o alto custo deste em vidas de civis. Se acredita que os documentos tenham sido a fonte material para os “The Drone Papers” (Os Documentos dos Drones) publicados pelo website The Interceptem 15 de outubro de 2015.

    Estes documentos revelaram que, entre janeiro de 2012 e fevereiro de 2013, ataques aéreos com drones da seção de operações especiais dos EUA mataram mais de 200 pessoas – das quais 35 eram alvos intencionais [suspeitos]. Segundo os documentos, em um período de cinco meses de operações, cerca de 90% das pessoas mortas em ataques aéreos não eram os alvos procurados. Os civis mortos, geralmente transeuntes inocentes que passam pelos locais, eram rotineiramente classificados como “inimigos mortos em ação.”

    Você pode ver aqui a minha entrevista com a advogada de Hale, Jesselyn Radack.

    A terrorização e matanças generalizadas de milhares de civis, talvez de dezenas de milhares, foi uma ferramenta potente de recrutamento para os Talibãs e os insurgentes iraquianos. Os ataques aéreos criaram muito mais combatentes hostis do que os eliminaram, e enraiveceram muitos no mundo muçulmano.

    Hale é sereno, articulado e fisicamente em forma graças ao seu auto-imposto regime de exercícios diários. Nós discutimos sobre os livros que ele leu recentemente, incluindo a novela 'East of Eden'(Ao Leste do Eden) de John Steinbeck and o livro de Nicholson Baker, Baseless: My Search in the Ruins of the Freedom of Information Act'(Sem Base: Minha Busca por Segredos nas Ruínas do Ato de Liberdade de Informação) – que explora se os EUA usaram armas biológicas na China e na Coreia durante a Segunda Guerra Mundial e na Guerra da Coreia.

    Hale está alojado atualmente na Unidade de Gerenciamento de Comunicações (CMU – Communications Management Unit) – uma unidade especial que restringe severamente e monitora pesadamente as comunicações, incluind a nossa conversa e as visitas. A decisão do Bureau de Prisões que enclausurar Hale na ala mais restritiva de uma prisão de segurança máxima (supermax prison) ignora as recomendações do juiz que o sentenciou, o Juiz Liam O'Grady, que sugeriu que Hale fosse alojado numa instalação hospitalar em uma prisão de baixa segurança em Butner, estado da Carolina do Norte, onde ele pudesse receber tratamento para a sua condição de Síndrome de Stress Pós-Traumático (PTSD – Post-Traumatic Stress Sindrome).

     Hale é um dentre algumas dezenas de pessoas de consciência que sacrificaram as suas carreiras e a sua liberdade para informar o público sobre crimes do governo (dos EUA), fraudes e mentiras. Ao invés de investigar os crimes que foram expostos e responsabilizar aqueles que os executaram, os dois partidos dominantes (democratas e republicanos) declaram guerra contra todos que os denunciam.

    Estes homens e estas mulheres de conciência são o próprio sangue vivo do jornalismo. Os repórteres não podem documentar abusos de poder sem eles e elas. O silêncio da parte da imprensa (corporativa) sobre a prisão de Hale – bem como a perseguição e prisão de outros campeões de uma sociedade aberta, como Julian Assange - é assombrosamente míope. Se os nossos mais importantes servidores públicos, aqueles que têm a coragem de informar o público, continuarem a ser criminalizados neste ritmo, nós cimentaremos uma censura total, resultando num mundo no qual os abusos e crimes dos poderosos são encobertos na escuridão.

    Barak Obama usou o Ato de Espionagem como uma arma para processar aqueles que proveram informações classificadas à imprensa. A Casa Branca de Obama, cujo assalto contra as liberdades civis foi pior do que aqueles feitos pelo governo Bush, usou este Ato de 1917, projetado para perseguir espiões, contra oito pessoas que vazaram informações às mídias, incluindo Assange – apesar dele não ser um cidadão estadunidense e que Wikileaks não é uma publicação baseada nos EUA – juntamente com Edward Snowden, Thomas Drake, Chelsea Manning, Jeffrey Sterling e John Kiriakou, que passou dois anos e meio na prisão por ter exposto a rotina de tortura de suspeitos detidos em lugares secretos (dark sites).

    Also under The Espionage Act, Joshua Schulte, a former CIA software engineer, was convicted on July 13, 2022 of the so-called Vault 7 leak, published by WikiLeaks in 2017, which revealed how the CIA hacked Apple and Android smartphones and turned internet-connected televisions into listening devices. He faces up to 80 years in prison. Schulte, um ex-engenheiro de software da CIA, foi condenado em 13 de julho de 2022 pelo chamado vazamento do Cofre Nº 7 (Vault 7 leak), publicaod pelo Wikileaks in 2017, o qual revelou como a CIA invadiu os telefones celulares Apple e Android e converteu televisores conectados à internet em aparatos de escuta. Ele enfrenta ter que passar até 80 anos na prisão.

    Obama usou o Ato de Espionagem contra aqueles que proveram informações às mídias mais do que o total executado por todos os governos anteriores. Ele estabeleu um terrível precedente legal, igualando as informações dadas ao público com espionagem para uma potência hostil. Eu publiquei materiais classificados quando trabalhei como repórter no The New York Times, porém estamos nos avizinhando rapidamente do dia em que a mera posse de tais materiais, junto com a sua publicação, será considerado ilegal – como já está sagrado em lei no Reino Unido. Isto fica a um passo curto de se criminalizar o jornalismo, até a prisão e assassinato de repórteres, como ocorreu em 2018 com Jamal Khashoggi no consulado saudita de Istambul. Enquanto Assange estava hospedado na embaixada equatoriana em Londres, a CIA discutia como sequestrá-lo e assassiná-lo após a divulgação dos documentos do Cofre Nº 7.

    O Ato de Espionagem foi abusado no passado. O presidente [dos EUA] Woodrow Wilson o utilizou para jogar socialistas na prisão – incluindo Eugene V. Debbs – por se oporem à participação dos EUA na Primeira Guerra Mundial. Mas não foi até o governo Obama que este ato foi usado sistematicamente contra a imprensa.

    A vigilância em massa do governo – sobre a qual muitos incriminados pelo Ato de Espionagem tentaram advertir o público – inclui o monitoramento de jornalistas. O monitoramento da imprensa, junto com aqueles que tentam informar o público ao prover informações à repórteres, contribuiu em muito para impedir as investigações sobre a maquinaria do poder. O preço de revelar a verdade é caro demais.

     Hale, que foi treinado no exército como um linguista em Mandarin, se sentiu desconfortável no momento em que começou a trabalhar no programa secreto dos drones.

    “Eu precisava de um salário”, diz ele sobre o seu trabalho na Força Aérea (dos EUA) e, deppois, como um empreiteiro privado no programa dos drones. “Eu não tinha onde morar e nenhum outro lugar para ir. Mas eu sabia que isto estava errado”.  

     Quando estava alocado ao Forte Bragg, no estado da Carolina do Norte (EUA), ele tirou uma semana de férias em outubro de 2011 para acampar no Parque Zuccotti no estado de New York, durante o movimento de Ocupar Wall Street (Occupy Wall Street). Ele vestiu o seu uniforme militar – um ato corajoso de desafio aberto para alguém que estava no serviço ativo – e segurou um cartaz que dizia “Libertem Bradley Manning”, que ainda não havia anunciado a sua transição (como mulher).

    “Eu dormi o parque”, diz ele. “Eu estava lá na manhã em que o prefito (de New York) Bloomberg a sua namorada fizeram uma primeira tentativa de expulsar os ocupantes. Eu fiquei junto com milhares de manifestantes, incluindo os sindicalistas do Teamsters e dos trabalhadores em comunicações que circundavam o parque. A polícia recuou. Mais tarde, eu soube que, enquanto eu estava no parque, Obama ordenou um ataque de drone no Iêmen que matou Abdulrahman Anwar al-Awlaki, o filho de 16 anos de idade do clérico radicalizado Anwar al-Awlaki, que assassinado por um drone duas semanas antes”.

     Alguns meses depois, Hale foi alocado para a base da força aérea (dos EUA) Bagram, no Afegaistão.

    Em uma carta ao juiz, ele descreve o seu trabalho:

    Na minha função de analista de sinais de inteligência alocado à base aérea de Bagram, me fizeram rastrear a localização geográfica dos telefones celulares que se supunha estarem sendo usados pelos chamados combatentes inimigos. O cumprimento desta missão exigia acesso a uma complexa rede de satélites em órbita global, capazes de manter conexões contínuas com veículos aéreos pilotados remotamente, comumnete chamados de drones. Uma vez que uma conexão contínua é feita e um telefone celular é designado como alvo, um analista de imagens estacionado nos EUA, em coordenação com um piloto de drone e um operador de câmera, assumiriam o comando, usando informações que eu provia, para monitorar tudo que ocorria dentro do espaço de visão do drone. Muito frequentemente, isto era feito para documentar a vida cotidiana dos suspeitos militantes. Havendo as condições adequadas, algumas vezes eram feitas tentativas de captura. Nouras ocasiões, era considerada um tomada uma decisão de atacar e matá-los onde eles estavam.
    A primeira vez que eu testemunhei um ataque de drone foi alguns dias após a minha chegada ao Afeganistão. Bem cedo naquela manhã, antes do amanhecer, um grupo de homens se reuniu na cadeia de montanhas da província de Patika (no Afeganistão) eu redor de uma fogueira, carregando armas e preparando chá. O fato deles carregarem armas não teria sido considerado fora do comum no lugar onde eu cresci, e muito menos nos territórios virtualmente sem leis e fora do controle das autoridades afegãs. Exceto que, dentre eles, havia um suspeito de ser membro dos Talibã, denunciado pelo celular-alvo (de monitoramento) que estava no seu bolso. Quanto ao fato dos outros indivíduos estarem armados e serem de idades de serviço militar e estarem na presença de um alegado combatente inimigo, isto era evidência suficiente para suspeitar deles também. Apesar de estarem reunidos pacificamente e de não representarem uma ameaça, o destino daqueles homens que bebiam chá ficou selado. Eu só pude olhar enquanto estava sentado e ví num monitor de computador quando uma terrível e repetina chuva de mísseis caiu sobre eles, respingando gotas de intestinos de cor violeta na encosta da montanha naquela manhã.  
    Desde aquele dia e até hoje, eu continuo a me lembrar de diversas cenas parecidas de violência gráfica executadas do conforto frio de uma cadeira em frente a um computador. Não passa sequer um dia em que eu não me questiono sobre a justificação para os meus atos. Segundo as regras militares de combate, pode ter sido permitido que eu tivesse ajudado a matar aqueles homens – cuja língua eu nã falava, cujos costumes eu não entendia e cujos crimes eu não podia identificar – da maneira macabra que eu o fiz. Vê-los morrer. Como poderia ser considerado algo honrável da minha parte ter ficado continuamente à espera da próxima oportunidade de matar pssoas insuspeitas, as quais, muito frequenteente, não representavam qualquer perigo para mim ou para qualquer outra pessoa naquele momento. Não importa quão honrado seria; como pode ser que qualquer pessoa pensante continuasse a acreditar que era necessário – para a proteção dos Estados Unidos da América – estar no Afeganistão e matar pessoas, nenhuma das quais era responsável pelos ataques à nossa nação em 11 de setembro de 2001 (tôrres-gêmeas em New York)? Apesar disso, em 2012, um ano inteiro após a morte de Osama bin Laden no Paquistão, eu tomava parte do assassinato de jovens homens equivocados que eram apenas crianças naquele dia de 11 de setembro de 2001.

    Hale ficou à deriva depois de deixar a Força Aérea (dos EUA), deixou a New School onde estava fazendo a faculdade e foi atraído de volta para operar drones em 2013 para o empreiteiro privado 'National Geospatial-Intelligence Agency', onde ele trabalhou como analista de geografia política entre dezembro de 2013 e agôsto de 2014.

    “Eu estava ganhando US$ 80 mil por ano”, disse ele no fone. “Eu tinha amigos formados em faculdades que não conseguiam ganhar tanto.”

     Inspirado pelo ativista da paz David Dellinger, Hale decidiu se tornar um “traidor” ao “modo de morte estadunidense”. Ele compesaria pela sua cumplicidade nos assassinatos, mesmo que fosse ao custo da sua liberdade. Ele vazou 17 documentos classificados que expuseram os altos números de mortes de civis feitas por ataques de drones. Ele se tornou um porta-voz e crítico proeminente do programa de drones.

    Devido ao fato que Hale foi acusado sob o Ato de Espionagem, não lhe foi permitido explicar as suas motivações ao tribunal. Ele também foi proibido de mostrar as evidências no tribunal de que o programa de assassinatos de drones matou e feriu grandes números de não-combatentes, incluindo crianças.

    “As evidências dos pontos de vista do acusado sobre procedimentos militares e de inteligência distrairiam sem necessidade o júri da questão se ele recolheu e transmitiu ilegalmente documentos classificados e, ao invés disso, converteriam o julgamento a uma inquisição sobre procedimentos militares e de inteligência dos EUA” - declararam os advogados do governo numa moção ao julgamento de Hale.

    “O acysado pode desejar que o seu julgmanto criminal se torne um fórum sobre outra coisa que não seja a sua culpa; mas estes debates não podem e não informam sobre as questões centrais deste caso: se o acusado recolheu e transferiu ilegalmente os documentos que ele roubou”, continua a moção do governo.

    Os drones frequentemente disparam mísseis Hellfire (“fogo do inferno”) com uma carga explosiva de mais de 9 quilos. Uma variação do Hellfire, conhecida como R9X carrega uma ogiva inerte; ao invés de explodir, ela arremessa cerca de 45 quilos de metal capazes de atravessar um veículo. Outra característica do míssil inclui seis longas lâminas dentro que são detonadas alguns instantes antes do impacto, triturando qualquer coisa que esteja à sua frente – incluindo pessoas.

    Os drones pairam 24 horas por dia nos céus sobre países que incluem o Iraque, a Somália, a Síria e, antes da derrota dos EUA, o Afeganistão. Sendo operados remotamente a partir de bases da Força Aérea (dos EUA) que estão longe dos alvos mirados, como no estado de Nevada (EUA), os drones disparam armas que obliteram casas e veículos instantaneamente e sem aviso prévio e matam grupos de pessoas. As crianças que são vítimas de ataques de drones são descartadas como “terroristas de tamanho-divertido” (“fun-sized terorists”)  

    Aqueles que sobrevivem aos ataques de drones frequentemente são severamente mutilados, sofrendo severas queimaduras e feridas com estilhaços, e perdendo a sua visão e audição.

    Numa declaração que ele leu no seu sentenciamento, em 27 de julho de 2021, Hale diz: “Eu peso que os camponeses que trabalham nos campos de papoulas (de ópio) cuja produção lhes garantirá livre passagem dos donos das guerras; estes, por sua vez, as trocarão por armas antes de sintetizar, reembalar e revender por dezenas de vezes até chegar a este país (os EUA) e nas veias estropiadas da próxima vítima de opioides na nossa nação (nos EUA). Eu penso sobre as mulheres que, apesar de viveremtodas as suas vidas sem ter por uma única vez a permissão de fazer uma escolha, mesmo que seja para elas mesmas, que são tratadas como peões num jogo cruel que os políticos jogam quando precisam de uma justificativa para matar ainda mais os seus filhos e maridos. E eu penso sobre as crianças, cujos olhos brilhantes e faces sujas olham para o céu e esperam ver nuvens cinzas, com medo dos dias de céu azul e limpo que indicam os drones que carregam notas ansiosas de morte para os seus pais.”

     Como disse um operador de drones”, ele leu no tribunal: “Você já pisou em cima de formigas e jamais pensou sobre isso? É isso que lhe fazem pensar sobre os alvos. Eles merecem isso, eles escolheram o lado deles. Você tinha que matar como parte da sua consciência para continuar a fazer o seu trabalho – ignorando as vozes interiores que lhe dizem que isto não era correto. Também eu ignorei a voz interna e continuei andando cegamente em direção à borda do abismo. E quando eu me ví na borda, pronto a ceder, a voz me disse: 'Você, que tem sido um caçador de homens, não existe mais. Pela graça de Deus, você foi salvo. Agora vá adiante e seja um pescador de homens, de modo que outros possam conhecer a verdade'”.

     Ironicamente, foi a eleição de Obama que encorajou Hale a entrar para a Força Aérea (dos EUA).

     Eu pensei que Obama, que, quando era candidato se opôs à guerra no Iraque, terminaria as guerras e a ilegalidade do governo Bush”, disse ele.

    No entanto, algumas semanas depois de tomar posse, Obama aprovou a alocação de um adicional de 17 mil soldados para o Afeganistão, onde 36 mil soldados estadunidenses e 32 mil da OTAN já estavam alocados. No final daquele ano, Obama aumentou novamente o nível de tropas estadunidenses no Afeganistão com mais 30 mil soldados, duplicando as baixas dos EUA. Ele também expandiu massivamente o programa de drones, aumentando os número de ataques de drones de algumas dezenas por ano antes dele assumir o seu mandato para 117 no seu segundo ano na presidência. Quando ele terminou o seu (sefundo) mandato, Obama presidiu sobre 563 ataques de drones que mataram aproximadamente 3.797 pessoas, muitas das quais eram civís.

    Obama autorizou “ataques assinados”, permitindo à CIA a executar ataques de drones sobre grupos de suspeitos de serem militantes desde que tivessem identificações positivas. O seu governo aprovou ataques de drones de “follow-up”, ou “ataques duplos”, os quais empregavam drones para atacar qualquer um que desse assistência aos feridos de uma ataque inicial feito por drones. O Bureau de jornalistas Invesigativos reportou em 2012 que “pelo menos 50 civís foram mortos em ataques de “follow-up” quando foram ajudar vítimas” durante os primeiros três anos do governo de Obama. Além disso, “mais de 20 civis também foram atingidos em ataques deliberados contra funerais e pessoas em luto”, diz o relatório. Obama expandiu a presença do programa de drones no Paquistão, na Somália e no Iêmen e estabeleceu bases de drones na Arábia Saudita e na Turquia.

    “Há muitas listas destas, usadas para alvejar indivíduos por diversas razões”, Hale escreve no seu ensaio intitulado “Why I Leaked the Watchlist Documents” (Por Que Eu Vazei Os Documentos da Lista de Vigilância), originalmente e anonimamente publicado em maio de 2016 no livro 'The Assassination Complex: Inside rhe Givernment's Secret Drone Warfare Program' (O complexo de Assassinatos: Dentro do Programa Secreto de Guerra por Drones do Governo), escrito por Jeremy Scahill e a equipe do The Intercept.

    “Algumas listas são bem guardadas; outras abrangem múltiplas agências de inteligência e de polícias locais”, escreve Hale no ensaio. “Há listas usadas para matar ou capturar 'alvos de alto valor' e outras que têm a intenção de ameaçar, coagir ou simplesmente monitorar a atividade de uma pessoa. No entanto, todas listas, seja para matar ou silenciar, se originam do 'Ambiente Datamart de Identidades de Terroristas' (TIDE – Terrorist identities Datamart Environment) e são mantidas pelo Centro de Triagem de Terroristas (Terrorist Screening Center) no Centro Nacional de Contra-terrorismo (National Couterterrorism Center). A existência do TIDE não é classificada (secreta), porém os detalhes sobre como este funciona no nosso governo (dos EUA) são completamnte desconhecidos do público. Em agorsto de 2013, o banco de dados alcançou a marca de um milhão de inserções. Atualmente, ele tem mais milhares de inserções e astá crescendo mais rápido desde o seu início em 2003.”

     O Centro de Triagem de Terroristas, ele escreve, não só armazena nomes, datas de nascimento e outras informações identificadoras de alvos potenciais, mas também armazena “registros médicos, transcrições e informações de passaportes; números de placas de automóveis, endereços de e-mail e números de telefones celulares (juntamente com a Identidade Internacional de Assinante de Telefone Móvel e os números de Identidade Internacional de Equipamento de Estações de Telefonia Móvel); os números da sua conta bancária e as suas compras; e outras informações sensíveis, incluindo o ADN e fotografias capazes de identificar você usando programas de computador de reconhecimento facial.”  

    As informações do suspeito são coletadas e agrupadas pela aliança de intelugência formada pela Austrália, Canadá, Nova Zelândia, o Reino Unido e os EUA – conhecida como os Cinco Olhos. Cada pessoa recebe na lista é designada por um número pessoal de TIDE (TPN).

    “De Osama bin Laden (TPN 1063599) a Abdulrahman Awlaki (TPN 26350617), o filho estadunidense de Anwar al Awlaki, qualquer um que teha sido alvo de uma opração secreta recebeu um TPN e é monitorado de perto por todas as agências que seguem aquele TPN muito antes de serem colocados numa lista separada e sentenciados à morte extra-judicialmente”, escreveu Hale.

     Como Hale expôs nos documentos vazados, as mais de um milhão de inserções no banco de dados da TIDE incluem cerca de 21 mil cidadãos dos EUA.

     Quando o presidente se apresenta à nação e diz que eles estão fazendo tudo o que podem para assegurar que há quase certeza de que não haverá civis mortos, ele está dizendo isso porque não pode dizer outra coisa, porque em qualquer momento que uma ação é executada para exterminar um alvo, há alguma quantidade de adivinhações naquela ação.”, diz Hale no documetário premiado 'Nationla Bird' (Pássaro Nacional), um filme sobre delatores no programa de drones dos EUA que sofreram injúrias morais e PTSD (Síndrome de Stress Pós-Trumático). “É só as consequências de qualquer tipo de arma ser detonada que você sabe quanto de dano real foi causado. Muitas vezes, a comunidade de inteligência tem confidência, o Comando Conjunto de Operações Especiais tem confidência, incluso a CIA, têm confiança na inteligência que recebem depois, a qual confirma que aqueles que eles miravam foi morto durante o ataque, ou que não foi morto naquele ataque.”

    “As pessoas que defendem os drones e a maneira pela qual estes são usados, dizem que estão protegendo vidas estadunidenses por não arriscar as vidas destes”, ele diz no filme. “O que eles fazem efetivamente é encorajar os tomadores de decisões porque não há ameaças e não há consequências imediatas. Eles podem fazer este ataque. Potencialmente, eles podem matar esta pessoa que estão tão desesperados em eliminar, por causa de quão potencialmente perigosa esta pessoa poderia ser para os EUA. Porém, se aocntecer de eles não matarem aquela pessoa, ou alguma outra pessoa envolvida no ataque também morrer, não decorrem consequências disto. Quanto se refere a alvos de alto valor, em cada missão se vai atrás de uma pessoa de cada vez, porém qualquer utra pessoa morta naquele ataque é terminantemente presumida de ser um assosiado da pessoa visada. Assim, sempre que eles possam identificar razoavelmente que todas as pessoas abrangidas pelo campo de visão da câmera sejam homens de idade militar – isto é, qualquer um que se suponha ter 16 anos ou mais – eles são alvos legítimos de acordo com as regras (militares) de combate. Se aquele ataque ocorre mata todos eles, eles simplesmente dizem que eliminaram todos eles.”  

    Os drones, ele diz, tornam a matança por vida remota “fácil e conveniente”.

    Em 8 de agosto de 2014, o FBI invadiu a casa de Hale. Aquele era o seu último dia de trabalho para o empreiteiro privado. Dois agentes do FBI, um homem e uma mulher, mostraram os seus distintivos a ele quando ele abriu a porta. Cerca de duas dezenas de agentes, com suas pistolas em punho, alguns vestindo coletes à prova de balas, seguiram atrás dos dois. Eles fotografaram e saquearam cada peça. Eles confiscaram todos os seus equipamentos eletrônicos, incluindo o seu telefone.

    Ele passou os cinco anos seguintes em limbo. Ele lutou para consegui trabalho, lutou contra a depressão e contemplou a possibilidade de cometer suicídio. Em 2019, o governo Trump indiciou Hale em quatro acusações de violar o Ato de Espionagem e uma acusação de roubo de propriedade do governo. Como parte do acordo judicial, ele declarou-se culpado de uma acusação de violar o Ato de Espionagem.

    “Estou aqui para responder pelos meus próprios crimes e não aqueles de outra pessoa”, disse ele no seu sentencimento. “E pode parecer que eu estou aqui hoje para responder pelo crime de roubar documentos, pelo que eu espero ter que passar alguma parte da minha vida na prisão. Porém, a razão pela qualeu realmente estou aqui é por ter roubado algo que jamais foi meu para pegar: uma preciosa vida humana. Pelo que eu fui bem compensado e ganhei uma medalha. Eu não conseguiria continuar vivendo num mundono qual as pessoas façam de conta que as coisas que acontecem não acontecem. A minha decisão consequente de compartilharm o público informações classificadas sobre o programa de drones foi um gesto que não pode ser tomado levianamente, nem algo que eu faria se eu acreditasse que tal decisão tivesse alguma possibilidade de causar dolo a alguém que não eu mesmo. Eu não agí por auto-engrandecimento, mas para que eu pudesse um dia humildemente pedir perdão.”

     Eo conheço alguns Danieis Hale. Eles tornaram possíveis as minhas reportagens mais importantes. Eles possibilitaram que verdades fossem ditas. Eles responsabilizaram os poderosos, Eles deram voz às vítimas. Eles informaram o público. Eles clamaram pelo estado de direito.

     Eu fico sentado em frente a Hale e me pergunto se isto é o fim; se ele, e outros como ele, serão completamente silenciados.

     A prisão de Hale é um microcosmo do vasto gulag que está sendo construído para todos nós.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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